Amores Brutos (2000)
Filme disponível no Amazon Prime Video
**Contém spoilers**
Definitivamente, Amores Brutos não é um filme leve. Essa é uma obra que a todo momento apresenta de forma direta durezas que fazem parte do nosso existir e isso pode ser bastante desconcertante. Há cenas que não tive condições de assistir por completo (especialmente as do primeiro ato), mas mesmo sendo este um filme que nos choca pela realidade, é uma obra que vale à pena ser vista. Faz parte da Trilogia do caos, sendo todos os três filmes (Amores Brutos, 21 gramas e Babel) roteirizados por Guillermo Arriaga e dirigidos por Alejandro Iñárritu. O enredo traz três histórias inicialmente paralelas entre si, mas que descobrimos pontos em comum com o decorrer da narrativa.
Octavio e Susana é a primeira história contada, com cenas absolutamente brutais que me fizeram pausá-lo rapidamente. É um ato duro, que apresenta personagens que possuem uma linguagem totalmente pautada na violência. Os cenários são absurdamente verossímeis, as cenas repletas de realidade (é possível até ler a marca Tupperware em um copo), o que é sujo apresenta sujidades reais (unhas, paredes, ruas). A direção faz questão de valorizar símbolos viscerais, como uma orelha sangrando ou um canivete sujo de sangue no chão. No entanto, o mais impressionante é a forma como são minuciosamente feitos os cortes: de um cão machucado para uma panela com carne moída; a partir de um tiro para uma quantidade de sangue fervendo em uma chapa, dentre outros. Os personagens vivem em ambientes em que excitação e aspereza se misturam.
Por sua vez, o segundo ato tem seu início no fim do primeiro. “La gente hoy”, o programa assistido na TV por Jorge (Humberto Busto), já anuncia a sociedade de aparências em que vivem os personagens que dão título à história, Daniel e Valeria. Não faltam simbolismos: o paradoxo entre a modelo com mobilidade reduzida que enxerga a si mesma em um outdoor da sala de casa; o porta-retrato da ex-esposa que permanece na mesa de trabalho; um apartamento caro com ratos no assoalho como metáfora para uma relação destinada à ruína. O casal torna-se refém das armadilhas criadas pelo tipo de sociedade com a qual eles são coniventes.
Por fim, o terceiro ato garante ao espectador testemunhar a atuação visceral de Emilio Echevarría como El Chivo, um homem velho dotado de uma fria crueldade para com seres humanos, porém de intenso afeto com cachorros. A narrativa nos expõe pontos de reflexão tais como o caráter mutável da vida, sobre hipocrisia, vingança e arrependimento. Tudo é tão bruto quanto um close-up no rosto de um cadáver ou uma chacina de cães. A história nos convida a enxergar a realidade de forma mais nítida, tal qual Chivo quando decide voltar a usar óculos.
Dessa forma, Amores Brutos é um convite intenso à reflexão sobre o que é ser humano e, apesar de esse ser um filme de 2000, mantém-se absolutamente atual. Feito para trazer incômodos, trata-se de uma obra que permeia os pensamentos de quem a assiste por dias e noites. Alejandro Iñárritu escancara nossa natureza vil e mesquinha, e expõe o fato de termos inúmeras atitudes capazes de fazerem mal aos animais e a nós mesmos. Se você se sentiu incomodado(a), parabéns. Você está vivo(a).
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